Antes que você pense que Hooked – New Science on How Casual Sex is Affecting Our Children
(Northfild Publishing) é outro livro com lições de moral anacrônicas,
leia mais uma vez e atentamente o subtítulo da obra. O livro não tem
nada de moralizante e está perfeitamente “antenado” com as novas
pesquisas sobre o funcionamento do cérebro humano – aliás, o aspecto
científico é exatamente o ponto forte da publicação. Escrito em
coautoria pelos ginecologistas e obstetras Joe S. McIlhaney e Freda
McKissic Bush, o livro deixa claro que, assim como a comida, o sexo pode
ser mal compreendido e abusado. E esse abuso frequentemente resulta em
doenças sexualmente transmitidas e gravidez não desejada. Mas há um
terceiro problema nem sempre mencionado ou analisado: as cicatrizes
emocionais decorrentes de uma vida sexual não orientada. Para os
autores, “o sexo dentro de um contexto matrimonial é o comportamento
ideal para evitar problemas” (p. 95). Como chegaram a essa conclusão? É
disso que tratam as 170 páginas recheadas de pesquisas e estudos
acadêmicos.
Baseados em dados recentes, os Drs. Joe e Freda questionam: Por que
aqueles que não são virgens quando casam têm mais probabilidade de se
divorciar do que aqueles que se mantiveram abstinentes até o casamento?
Por que adolescentes sexualmente ativos têm mais probabilidade de ser
depressivos do que os abstinentes? Por que casais casados reportam
níveis mais altos de satisfação sexual do que os indivíduos não casados e
com múltiplos parceiros sexuais?
E eu pergunto: Você já viu questionamentos semelhantes na grande
imprensa? Dificilmente. Em revistas ditas femininas? Duvido. Em
publicações para teens? Também não acredito.
A abordagem midiática focada no corpo e na sensualidade – portanto na
extrema valorização do aspecto físico – frequentemente se esquece do
mais importante órgão sexual: o cérebro (e preservativos e
anticoncepcionais não proveem proteção contra as influências do sexo
sobre o cérebro). Nossa “central de comando” trabalha sob o efeito de
neurotransmissores como a dopamina, a oxitocina e a vasopressina. As
três são neutras, podendo recompensar bons e maus hábitos, dependendo do
estilo de vida ou do comportamento adotados pela pessoa. “Com a ajuda
de técnicas de pesquisa e tecnologias modernas, cientistas estão
confirmando que sexo é mais do que um ato físico momentâneo. Ele produz
poderosas (até para a vida toda) mudanças no cérebro que dirigem e
influenciam nosso futuro num grau surpreendente” (p. 21).
“Quando duas pessoas se tocam de maneira intensa, significativa e
íntima, a oxitocina [também conhecida como ‘molécula monogâmica’] é
liberada no cérebro da mulher. A oxitocina então faz duas coisas:
aumenta o desejo da mulher por mais toques e faz a ligação da mulher com
o homem com quem ela tem passado tempo em contato físico. [...] É
importante reconhecer que o desejo de conexão não é apenas uma
sensação emocional. A ligação é real e quase como o efeito adesivo de
uma cola – a poderosa conexão que não pode ser desfeita sem grande dor
emocional” (p. 37).
Segundo os autores, enquanto o efeito hormonal da oxitocina é ideal para
casados, ele pode causar problemas para mulheres solteiras ou para
moças abordadas por homens que desejam sexo. O cérebro feminino pode
levá-la a um mau relacionamento que ela pensa ser bom por causa do
contato físico e da resposta gerada pela oxitocina. A verdade sobre esse
tipo de relacionamento pode ser clara para os pais ou amigos que estão
preocupados com o bem-estar da moça, enquanto ela talvez não se dê conta
do perigo ou da inconveniência da relação. Por isso, especialmente as
mulheres jovens precisam ser advertidas sobre o poderoso efeito de
ligação da oxitocina. O rompimento dessa ligação explica a incrível dor
emocional que as pessoas geralmente sentem quando um relacionamento é
terminado (p. 40, 41).
E quanto aos homens? Tudo o que foi dito acima se aplica também a eles,
com a diferença residindo apenas no tipo de neurotransmissor: no cérebro
masculino, é a vasopressina que atua de maneira similar à oxitocina.
Durante o sexo, o cérebro dos homens é inundado com vasopressina, “e
esse neuroquímico produz uma ligação parcial com cada mulher com quem
eles tiveram relação sexual. Eles não percebem que esse padrão de ter
sexo com uma mulher e então romper com ela e depois ter sexo com outra
os limita a experimentar apenas uma forma de atividade cerebral comum
aos seres humanos envolvidos sexualmente – a corrida dopamínica do sexo.
[...] O padrão de mudança de parceiras sexuais, portanto, danifica a
capacidade deles de ligação numa relação de compromisso. A inabilidade
de criar laços após múltiplas ligações é quase como uma fita adesiva que
perdeu sua cola após ser aplicada e removida várias vezes” (p. 43).
Segundo os autores, devido à atuação da dopamina, da oxitocina e da
vasopressina, entre outros fatores, cada pessoa, na realidade, pode
mudar a própria estrutura do cérebro, graças às escolhas que ela faz ou
ao padrão de comportamento que adota.
Cuidado especial com os jovens
Quando o assunto é sexo e outras decisões morais/comportamentais,
cuidado especial devem ter os jovens (e os pais deles). Isso porque o
cérebro – mais especificamente o lóbulo pré-frontal – ainda não está
plenamente amadurecido até os 21 anos. Essa região do cérebro localizada
bem atrás da testa é a responsável pelos pensamentos cognitivos e pelas
as decisões. “O perigo, de fato, é que se os jovens têm recebido
recompensa dopamínica de boas sensações provenientes de comportamentos
perigosos como dirigir em alta velocidade, praticar sexo e outros, eles
podem se sentir compelidos a aumentar esses comportamentos a fim de
obter a mesma boa sensação” (p. 34). O que fazer, então? “O cérebro
adolescente pode ser positivamente moldado pela estrutura, orientação e
disciplina provida por pais cuidadosos e outros adultos” (p. 53). Daí a
necessidade de construir relacionamento saudável e de confiança com os
filhos, desde a infância. Isso para que, quando eles mais precisarem da
orientação paterna, possam contar com pais em quem confiam.
Joe e Freda afirmam que o “sexo é um dos mais fortes geradores de
recompensa dopamínica. Por essa razão, jovens são particularmente
vulneráveis a cair num ciclo de recompensa dopamínica por comportamento
sexual imprudente – eles podem ficar viciados [hooked] nisso. Mas
o efeito benéfico da dopamina para os casados consiste em torná-los
‘viciados’ no sexo um com o outro” (p. 35). Por isso, o contexto
adequado para a experiência sexual é mesmo o casamento, e não a idade da
imaturidade sem compromisso.
Outra evidência disso: meninas adolescentes com vida sexual ativa se
mostraram três vezes mais deprimidas do que as que se mantinham
abstinentes (sem contar que uma em cada quatro adolescentes sexualmente
ativas é infectada com DST a cada ano). Além disso, pensamentos suicidas
também ocorrem mais frequentemente entre mulheres que mantêm vida
sexual fora de uma relação de compromisso e romantismo (p. 78).
Padrões de comportamento destrutivos
A evidência mostra que quando o ciclo sexo/ligação/rompimento é repetido
algumas ou muitas vezes – mesmo quando a ligação é de curta duração –
dano é causado na importante capacidade interna de desenvolver conexão
significativa com outros seres humanos (p. 55). Em outras palavras, o
comportamento adotado no presente vai afetar positiva ou negativamente a
vida e os relacionamentos futuros. Planta-se agora, colhe-se agora e
depois.
Além dos neurotransmissores capazes de criar ligação entre os parceiros,
há outro detalhe importante: as sinapses que governam decisões sobre
sexo, tanto no cérebro do homem quanto no da mulher, são reforçadas de
modo a tornar mais fácil escolher ter sexo no futuro, enquanto sinapses
que governam a contenção sexual são enfraquecidas e deterioram. “Em
resumo, engajar-se em sexo cria uma reação em cadeia de atividades do
cérebro que levam ao desejo de mais sexo e maiores níveis de apego entre
duas pessoas” (p. 62). Por isso, é bom pensar bem antes de dar o
primeiro passo rumo à iniciação sexual.
Estatísticas mostram que se os jovens começam a fazer sexo por volta dos
16 anos, mais de 44% deles terão tido cinco ou mais parceiros sexuais
até chegar aos 20 anos (quanto sofrimento até lá!). Por outro lado, se
eles têm mais de 20 anos quando começam a praticar sexo, apenas 15%
terão tido mais de cinco parceiros sexuais, enquanto 50% terão feito
sexo com apenas um parceiro (p. 65).
Os autores também destacam o fato de que, quando a pessoa termina um
relacionamento e começa outro, a tendência é ir rápida e prematuramente
para o mesmo grau de intimidade nesse novo relacionamento, mesmo que os
parceiros tenham padrões de intimidade diferentes. Ou seja, se a pessoa
fez sexo com o parceiro anterior, na nova relação, a tendência será ir
rapidamente para o ato sexual, mesmo que um dos parceiros não tenha tido
relações sexuais anteriormente. “A recompensa dopamínica é muito forte”
(p. 77), relembram.
Por isso, repito, é bom pensar bem antes de dar o primeiro passo rumo à
iniciação sexual. Mais: se você não é casado, não quer sofrer e fazer
outros sofrerem, pense mil vezes antes de iniciar qualquer
atividade sexual ou mesmo contatos físicos mais íntimos. Sua felicidade
futura e de seu/sua namorado(a) pode depender também disso.
Prejudicando a futura vida conjugal
“Tornar-se sexualmente ativo e ter múltiplos parceiros sexuais pode
danificar uma habilidade individual de desenvolver saudáveis, maduros e
duradouros relacionamentos. Isso parece especialmente verdadeiro para um
futuro casamento saudável e estável. Vários estudos mostram uma
associação entre sexo antes do casamento e alta taxa de divórcio quando
esses indivíduos eventualmente casam. Isso sugeriria, entre outras
coisas, que a habilidade da pessoa de se ligar ao cônjuge foi
danificada, fazendo com que alguns lutem com o compromisso assumido no
casamento” (p. 80).
Numerosos estudos mostram que, quando as pessoas praticam sexo antes do
casamento, elas estão mais propensas ao divórcio quando se casam mais
tarde. Além disso, essas pessoas costumam ter mais dificuldade para se
ajustar no casamento e são menos propensas a experimentar alegria,
satisfação e amor (p. 101).
Assim, não é demais repetir: é dever dos pais orientar os filhos para
que não estraguem sua felicidade futura. E o livro visa a justamente
oferecer argumentos científicos para isso. “Pais podem agora
confiantemente dizer que a ciência mostra que para os jovens terem
melhor chance de uma vida feliz, eles devem esperar até poderem ter uma
relação de compromisso para toda a vida, antes de praticarem sexo. [...]
Eles podem saber que estão apresentando fatos e não apenas dando sua
opinião de que se abster de sexo antes do casamento [...] é a melhor
escolha” (p. 115).
Michael D. Resnick, PhD citado pelos autores, mostra que os adolescentes
que são fortes o bastante para evitar envolvimento sexual possuem três
coisas em comum: (1) altos níveis de conexão/relacionamento com os
pais/familiares; (2) desaprovação paterna quanto à vida sexual ativa na
adolescência; e (3) desaprovação dos pais quanto ao uso de
contraceptivos na adolescência. Essas características também incluem
sentimentos de amor, calor e carinho por parte dos pais, assim como a
presença física de pelo menos um dos pais no lar em momentos-chave, como
antes de irem para a escola, depois da escola, no jantar e na hora de
dormir (p. 121).
Nunca é tarde para mudar
Se más escolhas foram feitas no passado, nem tudo está perdido. Segundo
os autores, “se uma pessoa não fez boas escolhas no passado, isso não
significa o fim da história, porque nosso complexo e maravilhoso cérebro
é uma estrutura moldável” (p. 93). “Mudanças espirituais,
aconselhamento, pares de apoio e reuniões em grupos que incluem
encorajamento para mudança são todas experiências que podem remodelar o
cérebro” (p. 107). O que dizer de uma nova e saudável relação com uma
pessoa que verdadeiramente se preocupa com você e com o futuro de vocês?
O que dizer, principalmente, de uma pessoa e uma relação abençoadas por
Aquele que quer ver Seus filhos felizes?
“Cada pessoa deve olhar para o futuro e decidir como o resto de sua
história vai se desenrolar. Para alguns, o próximo capítulo de sua
história de vida pode significar reclamar sua virgindade, às vezes
chamada de ‘virgindade secundária’, mudando comportamentos e
estabelecendo novos padrões em seus relacionamentos. Para outros, o
próximo passo para um grande futuro pode significar evitar situações
difíceis e criar novas regras [limites] de namoro para manter sua
virgindade. Alguns ficam com as cicatrizes psicológicas dolorosas de
abuso sexual ou de manipulação que eles devem trabalhar até se tornar
‘inteiros’ de novo. Cada caminho apresenta desafios que podem ser
difíceis de superar” (p. 119, 120). Mas a vitória é possível de ser
alcançada, conforme sugerem os autores. E, nesse ponto (permita-me
acrescentar), a confissão e o desejo de ser nova criatura (promessas
contidas na Bíblia) acabam sendo o suporte ideal para a mudança e o
estabelecimento de novos padrões comportamentais.
Chave de ouro
O capítulo “Final thoughts” termina o livro com chave de ouro, e estes
dois parágrafos são verdadeiras pérolas: “À medida que consideramos
todos os dados que analisamos neste livro, somos levados à conclusão de
que a moderna teoria da evolução a respeito da sexualidade humana está
errada. Essa teoria pode ser resumida dizendo que aqueles que a propõem
acreditam que os seres humanos são (nos termos deles) ‘projetados’ para
ser promíscuos. A teoria fundamental é que as mulheres têm relações
sexuais com vários homens, até encontrar aquele com os melhores genes.
Homens têm relações sexuais com várias mulheres, até que uma delas o
escolha para ser o pai de seu filho.
“O que temos mostrado nos dados que discutimos é exatamente o oposto
dessa teoria. Parece que a pesquisa mais atualizada sugere que a maioria
dos seres humanos é ‘projetada’ para ser sexualmente monógama com um
companheiro para a vida. Essa informação também mostra que os indivíduos
que se desviam desse comportamento encontram mais problemas, sejam eles
doenças sexualmente transmissíveis, gravidez fora do casamento ou
problemas emocionais, além do dano na capacidade de desenvolver conexão
saudável com os outros, incluindo o futuro cônjuge” (p. 136, 137).
Os autores mostram ainda que o casamento traz vantagens sobre a relação
de simples coabitação e dizem que, para que a neuroquímica envolvida no
contato físico tenha seu máximo efeito, é necessário quase diariamente
ser ativada pela repetição do toque e da proximidade.
“Porque o sexo é a mais íntima conexão que podemos ter com outra pessoa ele requer a integração de tudo o que somos nesse
envolvimento sexual – nosso amor, nosso compromisso, nossa integridade,
nosso corpo, nossa própria vida – para toda a vida. Se o sexo é menos
do que isso, é apenas um ato animal, e de certa forma o estamos
praticando como animais e não como seres humanos plenos” (p. 104).
Por ir diametralmente contra o mainstream comportamental atual, não creio que alguma editora secular de grande porte tenha coragem de publicar Hooked. Então, que pelo menos os leitores tenham coragem de colocar em prática tudo o que o livro traz. Eles só têm a ganhar com isso.
Michelson Borges
Leia a matéria aqui
Posts Relacionados:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário